Por: Beto
Hoje na volta do trabalho eu vi uma
ocupação de terra.
Famílias, crianças, tendas,
plástico e ripas. Não tinha notado a ocupação no caminho de ida. Nem ontem,
passando pelo mesmo lugar. Das duas uma: ou estou mesmo atento, ou com a visão
comprometida pela correria.
A cena me trouxe à mente uma
sequência de outras situações presentes nos últimos dias e meses. Em Naviraí
(MS) e em Americana (SP), Guaranis-Kaiowá e camponeses. Determinadas canetadas
podem impedir, nos próximos dias e semanas, um suicídio coletivo e um processo
de despejo de centenas de famílias.
Onde circulo, processos semelhantes
ocorrem a cada dia. Desocupações, invasões. Açoites. Ameaças de incêndio.
No auge do ringue do segundo
turno tenho um breve cenário urbano-rural do meu país
Reflito sobre a
representatividade que esta aí, proposta. Imposta. Dia após dia ouvindo
promessas, diálogos, propagandas. Sendo invadidos pelo vermelho, pelo azul e
amarelo, panfletos e infinitos cavaletes.
Segue a estrada dos pensamentos,
numa breve análise que é indignante.
Soninha, por exemplo. A fala descolada
e simpática me vira e acusa o adversário de filhadaputagem. Bom, deram o Print.
Rs. A análise fez-me rir no começo. Mas a risada, nesse caso, só poderia ser
sadismo de minha parte. Diante do cenário da vida.
Vou ao representante do centro
expandido. Este sente cada vez mais o sabor da derrota. Não sabe mais como
perder e logo estará como Maluf. Perderá de novo, mesmo apelando para as
vítimas do acidente da TAM no horário eleitoral. Realmente, essa ele saca da
manga. Parece que foi bem efetivo o socorro às vítimas na época. Ótimo.
Mas com grande respeito às
famílias, eu não me comovo, candidato, já que vejo pela janela o extermínio e a
luta. Vejo a justiça optando pela especulação em detrimento da vida, amparada
por artigos e incisos, retirados da nossa incapacidade de intervenção
histórica, no qual legislamos contra nós mesmos ao escolher nossos
representantes.
Sigo nesse mote de pensamentos. A
cena é triste. A cena incomoda. E não há como não pensar em nossa
representação, ainda mais nesse momento.
1984. Lembro-me do grande
articulador: o centro, o partido. Enquanto exigimos, ansiosos, vetos,
assinaturas e posturas, ele opera por si. Liso, ele cruza o país, onde duas
imagens acompanham a trupe: o Presidente e a Presidenta. Agora, no segundo
turno, eles vêm pessoalmente, principalmente nas cidades grandes.
Em São Paulo, Haddad me chama a
atenção: senta pra ideia na reta final em SP. Ideia representativa, com Brown,
Ice Blue, Leci Brandão, Helião, Ganjaman.
Netinho de Paula?
Já em Campinas, vem a dupla dizer
descaradamente que lugar de radialista não é na política. Nessa hora ri de
novo, olha a frase! Olha o pleito eleitoral!
Não há credibilidade, nem muito
motivo pra sorriso. A sequência de notícias nos leva à mazela. Irracionalidade
no campo e na cidade. Em São Paulo a sensação é a de uma cidade nocauteada pela
gestão da elite. Nocauteada pelos ricos, pelas ocupações policiais, bombas de
gás, abusos, crimes. Repressões de todas as formas.
(Me foge o plural da palavra
“projétil” nesse momento).
Fica o maior questionamento desse
processo eleitoral:
Em que medida o povo reconhece
que está acuado?
Entre o crédito, os empréstimos e
os juros. Entre gás de pimenta, despejo e esgoto a céu aberto. Entre o salário no nível do simples pra
muitos e do inexistente para outros tantos.
Entre aqueles que aberrantemente
não veem essas cenas, ou fingem não vê-la, ou até mesmo culpam aqueles que
protagonizam a cena pela sua existência.
Acuado estamos todos.
Entre todo o tipo de propaganda
eleitoral.
Atingidos.
Entre o drama da TAM.
Sensibilizado.
Entre o comício e o último
capítulo da novela.
Creio que existam fatos
emblemáticos, que podem mexer com a sensibilidade de uma nação e dos seus cidadãos. Certo?
Não seria uma ameaça de suicídio
coletivo por etnias de nosso território um desses fatos? Mesmo entendido como "morte coletiva" na análise institucional (o que seria, em tese, diferente).
A cidade afirma “Yes, nós temos
amor!” na Praça Revitalizada, enquanto o mandatário do Estado diz que só morrerá quem se
mexer.
(Na periferia a próxima festa do
amor, combinado?)
O cidadão e o eleitor.
O campo e a cidade.
Até que ponto essa sequência de
pensamentos que eu tive recobre as pessoas essa época do ano é difícil de
mensurar. Talvez não tão pouco como se afirme. Mas há uma certeza: quem não vê,
não pensa.