quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Identidade dos bairros de São Paulo

               
                Por: Beto

                É fechado que eu começo a pensar nesse tema.
                Difícil pensar sobre a identidade do meu bairro olhando para ele. Contemplando-o.
                Talvez na sacada. Sentado numa muretinha que resta de tempo livre para um paulistano.
                Onde é possível apreciar das mais requintadas iguarias da culinária francesa, passando pelas exposições de algum contemporâneo renomado e finalizando numa amostra de músico tailandesa, não resta a um paulistano muito mais que uma mureta.
                Ela é sim, variável. Uma mureta pode ser uma poltrona, ou sofá em frente aos 179 canais digitais. Pode ser a cadeira giratória que nos leva ao mundo virtual, ou as cadeiras do avô quatrocentão, que leva ao mundo intelectual.
                Não nos resta mais que uma mureta na sacada.
                E fique esperto, sempre alerta, como diriam os escoteiros da selva. Podem estar filmando seu computador, e planejarem entrar em sua casa à noite. Podem observá-lo à distância, e interpretar sua atitude. Estranha, ela seria chamada.
                Encostado na mureta. Observando a PAISAGEM de Pirituba. E olha que o Sol de inverno não é nada desagradável. Pelo contrário, deixa tudo até que bem disposto. Há muito cinza, então os pontinhos verdes dão um contraste legal. As coisas “acabadas” não têm cores definidas, então a mistura fica conturbada, apesar do predomínio ser alaranjado. Inacabado.
                Mas o que diria, ou melhor, o que é possível dizer sobre essa paisagem? Seja o que o for, você o fará sozinho. É desse princípio que eu vejo ser possível falar sobre identidade aqui, ou acolá, em SP. Você fará isso distante das pessoas a sua volta. Por mais que pareça estar cercado delas. Aquelas que deveriam construir a tal identidade.
                Certo... É fácil dizer que isso é óbvio. Há tanta mistura. De Norte a Sul, do continente que é o Brasil, no país que é essa cidade.
                É fácil dizer que isso é fruto da correria... veja só: “Vamos ali, empinar pipa... Quê? Quem sabe dia 30, estarei de férias, tem um tempo até o dia 04, vou viajar depois. Agilizar uns negócio. Mas viu, qualquer coisa escreve um e-mail.”
                “Nada disso”, alguém poderia gritar. A perda de identidade  entre as pessoas é fruto da violência urbana! Sim!!!!!. A violência urbana deixa-nos com medo não é?.
                Numa rua hostil, muitas são as maneiras de ser ferido. Cacetete, bala bandida, bala do Estado. Facada, murro na cara... Atropelado, vingado... Vítima de um psicopata ou de um motorista que atualmente prefere guiar pela contra mão...
                O que seria essa perda de identidade?
                Convivendo por essas palavras, os sujeitos migram da lan house aos blogs, do twitter ao facebook, do cidade alerta! (ou urgente!, agora! Acontece! E etc) à SPORTV. Quem é capaz de julgar essa distância entre as pessoas? Quem é capaz de definir?
                Uma pausa pra trocar de mureta. Quem sabe uma mais confortável... E até mesmo fotografar essa cena.

                               

                Vejo que não é à toa a perca da identidade dos bairros. Tomo como exemplo os edifícios. Eles (des) constroem a paisagem de São Paulo há anos. De identidade no Centro só restam aquelas de agenda. Com horário e preço definidos, onde estudante e professor paga meia. O resto foi varrido por edifícios. Cada um à sua época, transmitindo as mais diversas identidades. Barões do café, arquitetura européia (não me pergunte época, nem tendência, nem estilo, nem nada!), prédio cibernéticos americanizados... O Centro de São Paulo é uma salada de identidades que nos habituamos a chamar de CAOS.
                Quando são rabiscados e escritos pelos pixadores, reclamamos.
                E os bairros periféricos. Aqueles onde se supões estar presente alguma identidade? São também cada vez mais varridos pelos tais edifícios. Alguns têm a vista privilegiada da Marginal Tietê, ou o acesso instantâneo para a via Expressa, que, diga-se de passagem, é corretamente chamada de obra faraônica, pelo milagre que faz em nossas vidas... poderiam também ser chamadas de “obras divinas”, “obras do profeta”...
                Mas voltando, também temos os edifícios mais afastados. Inclusive há uma sigla. CDHU. A precária e ínfima maneira de agregar todos à cidade.
                A cidade onde reflito aqui sobre identidade.
                Nada mais coerente do que nossa identidade estar preservada dentro dos edifícios. Neles há trabalho, escritórios, moradias, segurança, TV e internet a cabo, “água pro banho e bom nível de informação”, como diria B.Negão.
                Afinal. Não são estes nossos hábitos? Partindo do princípio que nossos hábitos representam nossas identidades...
                Pô. Tem um peixinho entrando num pipão. Se tomar relo vai ser foda!
                Essa frase tem tanta identidade atual quanto uma pintura rupestre. De alguma sociedade que chamaríamos de arcaica.
                É assim, (des) envolvidos, que proliferamos nossa identidade. No núcleo familiar fechado, aguardando a chegada dos edifícios para valorizar nossa área.
               

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